FENAJ: Direção do jornal A Tarde volta atrás e readmite jornalista

 
Em assembleia realizada nesta quinta-feira (17), os jornalistas do jornal A Tarde e a direção do Sindicato dos Jornalistas da Bahia comemoraram a reversão da posição da direção da empresa, que no último dia 8 demitiu o jornalista Aguirre Peixoto por suposta pressão de grupos do mercado imobiliário. Ele retoma suas atividades no dia 28 de fevereiro. Os trabalhadores permanecem em Estado de Alerta em função do processo de mudanças na gestão do jornal.

O repórter Aguirre Peixoto foi demitido no dia 8 de fevereiro por supostas pressões do setor imobiliário, insatisfeito com a série de reportagens produzidas pelo jornalista dando conta de irregularidades na implantação da Tecnovia, antigo Parque Tecnológico, do governo baiano, que está sendo construído na Avenida Paralela. Entre as irregularidades apontadas estava a devastação da Mata Atlântica, que gerou ações por parte do Ibama e do Ministério Público Federal. Surpreendido com a posição da direção do jornal, o então editor-chefe do veículo, Florisvaldo Matos, pediu demissão dois dias depois.

Indignados com a demissão de Peixoto, já no dia 8 os jornalistas pararam a redação do Jornal A Tarde por mais de duas horas. Uma comissão formada por representantes do Sindicato dos Jornalistas e jornalistas da redação desenvolveu negociações com a direção do jornal. As mobilizações dos profissionais prosseguiram e a denúncia ganhou repercussão nacional e internacional.

Já no dia 11 de fevereiro, o novo editor-chefe do matutino, Ricardo Mendes, anunciou que a direção da empresa retrocedeu de sua posição, mas ficaria suspenso por 30 dias, podendo voltar após este período. Tal anúncio não satisfez os jornalistas, que exigiram o retorno do colega sem nenhuma punição.

Vitória emblemática
Marjorie Moura, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia e vice-presidente Regional Nordeste II da FENAJ, informou nesta quinta-feira que, após idas e vindas, a direção da empresa chegou a um termo comum com as exigências do movimento. Aguirre Peixoto terá os dias parados abonados e, como tem diversas horas de folga a ver no Banco de Horas da empresa, só retornará normalmente ao trabalho no dia 28 de fevereiro.

“Foi uma vitória emblemática da categoria diante de um processo de demissão arbitrário”, comemora Marjorie, lamentando, porém, o pedido de demissão de Florisvaldo Matos, profissional com longa trajetória no jornalismo baiano. Ela informa, também, que a categoria permanecerá em Estado de Alerta, em função do processo de mudanças vivido pelo jornal. “Ao que se sabe está havendo uma discussão entre os acionistas e deverão ocorrer mudanças na direção da empresa”, conta, informando que os jornalistas reivindicam maior valorização.

Com a data-base dos jornalistas em maio, a direção do Sindicato inicia as negociações com a direção de A Tarde em março.

SemelhançaO caso de Aguirre Peixoto guarda semelhança com a demissão do jornalista Dawton Moura no Diário do Nordeste (CE), ocorrida em outubro passado por causa da publicação de uma reportagem. Mas com desfecho diferente.

Com o consentimento dos editores, o veículo publicou o caderno especial "Revoluções ontem e hoje" que, além de resgatar a influência do Marxismo em processos revolucionários dos séculos XIX e XX, trouxe uma entrevista com o pensador marxista Michael Löwy.

A direção do Grupo Edson Queiroz, proprietário do Diário do Nordeste, porém, discordou da publicação. Por determinação de seus patrões, o editor-chefe do jornal, Ildefonso Rodrigues, informou que a publicação do caderno - solicitada por ele mesmo - foi o motivo para a demissão de Dawton Moura, então editor do Caderno 3 e um dos entrevistadores de Löwy. Ildefonso ainda expressou que o sociólogo é "panfletário", "subversivo" e "inoportuno no momento atual".

Apesar dos protestos do Sindicato dos Jornalistas do Ceará e de colegas da redação pela demissão arbitrária, ela não foi revertida. A jornalista Síria Mapurunga, que também participou da entrevista com Michael Löwy, deixou o jornal no mês passado